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Um legado que transa os limites do tempo e gera esperança para inúmeras gerações

Pioneiro na luta pelos direitos e visibilidade da comunidade transgênero no Brasil, João W. Nery, nasceu em 1950 no Rio de Janeiro. Ele foi o primeiro homem trans a realizar a cirurgia de redesignação de gênero no país, em uma época em que esse procedimento era criminalizado. Sua coragem e determinação abriram caminho para muitos outros que enfrentavam os mesmos desafios e preconceitos.

Nery teve uma infância conturbada, onde desde cedo encontrava dificuldades para se reconhecer como uma garota, sempre vestindo-se como um rapaz e se afastando do assim tido “jeito feminino”. Logo percebeu que era diferente e não conhecia alguém como ele, o que resultou na rejeição de seus colegas e sociedade.

Aos 19 anos, João ingressou na faculdade de psicologia, onde encontrou conformo ao se deparar com teorias que ajudariam a entender sua sexualidade. 

Logo se tornou um exímio acadêmico e viajou para diversos países em busca de conhecimento, onde em uma dessas viagens, ouviu sobre a cirurgia de redesignação de gênero, até o momento proibida no Brasil.

A então a moça de 30 anos, em 1977 durante o período da ditadura militar, toma coragem e se submete de forma clandestina aos tratamentos e cirurgia de redesignação de gênero, que além de proibido estava em estágio experimental.

Ao sair da clínica além da mudança física, teria que enfrentar uma mudança completa, recomeçando tudo do zero. Em companhia de amigos ele teve que infringir novamente a lei, para conseguir emitir uma nova documentação no cartório, abrindo mão de toda sua identidade e realizações antes da transição.

Em seu livro “Viagem Solitária: Memórias de um Transexual 30 Anos Depois”, Nery, conta que trabalhou de taxista, pintor, pedreiro e tudo mais o que o ajudava a pagar as contas, mas se recusava a desistir.

Ele esteve envolvido em diversas atividades voltadas para a defesa dos direitos LGBT+, sua atuação como palestrante e militante ajudou a sensibilizar a sociedade sobre a importância da inclusão e do respeito à diversidade de gênero. Ao longo de sua vida, ele enfrentou inúmeros obstáculos, mas sempre manteve sua determinação em promover a igualdade e a dignidade para todas as pessoas, independentemente de sua identidade de gênero.

Em 2018 João W. Nery faleceu vítima do câncer, deixando um legado de luta pelos direitos LGBT+ no Brasil. Sua coragem e dedicação inspirou inúmeras pessoas pelo mundo e sua obra permanece como testemunho da resiliência e da força da comunidade trans, e como um lembrete de que é possível transformar adversidades em conquistas significativas.

Erick Pires

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